domingo, fevereiro 26, 2006

rompendo

Minha superfície descasca. Algo estranho em mim... alguma coisa lá dentro, bem fundo, cresceu. Mas cresceu tanto, mas tanto, que eu não me contenho mais.

domingo, fevereiro 19, 2006

aDORnadaCOMsuasLÁGRIMAS

segurou-se na tristeza
tão conhecida sua, tão intensa
que lhe confortava, quase sólida
garantindo-lhe um lugar
no ser e no estar
um abrigo contra o medo
que trocou por uma certeza
a certeza da tristeza

nela confiou
por ser sua única companheira
dentre todos sentimentos
o único constantemente intenso
sendo cada aspecto dela tão familiar
que, sem provas, poderia identificar
a sua presença apenas por indícios
que sabe lá se existiam

acostumou-se com a dor
e erroneamente julgou
estar imune ao sofrimento

a dor é uma droga
e ela havia tido overdoses mil
até acreditou ter perdido o vício
mas não passava de uma conclusão vil

necessitava sim de doses mais fortes
posto que dor intensa já era trivial
precisava se martirizar até obter
algum tipo de percepção existencial

morre de medo de se desestabilizar
de ter que enfrentar a dúvida do existir
a despeito da sua certeza de sofrer

não percebe que não consegue
lidar com outra coisa além de dor
associou amor a sofrer
a resguardar-se
frustrar-se
e resolveu repetir essa experiência
eternamente, com displicência
adornada com suas lágrimas

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

mais pra se viver

eu tenho o tempo corrido
e o desperdiço devagarinho
como quem brinca com o perigo
eu finjo que descanso
sem estar cansado primeiro
e me perco no tédio
à procura de um remédio pra preguiça
que não seja algo dinâmico

e enquanto isso, eu fico aqui pensando
que deve existir mais pra se viver
do que ficar conjecturando
que deve existir mais pra se viver

sim, deve haver mais pre se viver
do que ficar conjecturando que deve haver
mais do que conjecturar aqui que deve haver
mais pra se viver

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

glow, blow

there is a shine in me
that only you can see
as there is a glow on your skin
that absurdly
don't blind the whole world
because they're too blind to see
but I'm not
I'm caught
by the glow of your body
that just blows my mind

I'll pick up my shine
you keep your light
and we'll burn together
brighter, forever

sexta-feira, fevereiro 03, 2006

obra



Multiplana em tela
Etérea enquanto matéria
Carnal quando é rítmica
A capa além do óbvio, como verso
Envolvente imagem em movimento
Trancedente imagem aprisionada
ou como verdade ficcionada

Muito bela em teoria
depois de escarrada e esculpida
mas antes do adiante
quanto custa a obra?
e o mais importante
o quanto ela cobra
do pedreiro de auto luxo
que é o artista?

Eu pergunto ainda
e o que lhe resta
depois de tanto artifício
empregado nesse vício
de fazer a obra?
Ou então não tem resto
e é ele que sobra?

Pois bem, penso assim
A obra completa
é o artista per si
7 artes em um ser
transbordando
para não se afogar
ensimesmado

A maior arte desse ser
é não somente sobreviver
como todos de sobras vivem
mas conseguir ainda existir
o que se pode fazer com estilo
até sofrer pode ter seu brilho
e isso sabe quem é artista de verdade
cada passo calculado
espontaneamente, é claro
fingindo sempre não ser cool
pois apelo cool maior não há
digo que artista sem humildade falsa
é que acaba soando como farsa

Ele tem Um buraco eterno e sem fim
jorrando coisas boas e ruins
pois quanto mais intenso vive
mais produz e prediz
do pensar e sentir alheios a si
e tão comuns a todos

Esse desejo constante
de querer mais e mais
sentir mais e mais
ser mais e mais
nunca é preenchido
graças a deus!
porque se fosse
produziria sempre mais do mesmo
se inspirando tanto em si
e esquecendo do alheio
que acabaria perdendo o fôlego
e se afogando em si mesmo

Em caso contrário, saudável
Muita vez a obra em tela
é mais viva e bela
do que o que vê o poeta
porque o que ele pinta
ninguém mais viu igual

Sua sensibilidade é tão completa
que nem só a beleza inspira
mas a tristeza também
quando a partir dela vem
a vontade de mudar a vida
transformá-la em metáfora
feita de suor e lágrimas
ou que seja de gozo e riso
ou qualquer mistura única
dos ingredientes da nossa alma

Sejamos todos pois, obra e artista
sejamos tinta e papel
deixemos que nos escrevam
que borremos
e que nos rasguem as páginas
e o mais importante
conservemos o rascunho vivo
para nos libertar
do preço mais caro
que se cobra:
o de pertencer a obra