terça-feira, janeiro 30, 2007

like a feather (you and me)

como uma pluma
envolta em ar e em si
e sem roçar, paira

isadora


o véu mais voa do que veste
a pele é uma penugem que se curva
e esses pés que partem e pousam
num ritmo de pássaro em cada pulso...





*Espetáculo em homenagem à bailadora Isadora Duncan
http://www.youtube.com/watch?v=zRaKB7n7XmM - parte 1
http://www.youtube.com/watch?v=jvy-p4ljISU&mode=related&search= - parte 2

vi pétalas mas pensei plumas

e daí,
se as pétalas também já não voam
fora das flores
assim como as penas.

a não ser nas tuas mãos.

sexta-feira, janeiro 26, 2007

abençoada seja a solidão

para que possam existir esses espaços
como num átimo em que tudo é excesso
e de repente não falta nada
nem privacidade

porque o contato com o outro
não é mais contato
é ínfimo, é mínimo
é todo

num existir junto sem fazer barulho
em que não há sequer necessidade
de dizer tudo bem
e uma exclamação lá no fundo
de que se pode viver sem
porque já não seria possível nos separarmos

terça-feira, janeiro 09, 2007

Retratos

E de repente olhou
e realmente não era

Os retratos todos enfileirados dispostos com certa disciplicência pela parede alta e ampla do cômodo de estudos. Dos mais variados tipos e tamanhos, passeando de Rembrandt a Edward Hopper, todos quadros que lhe pintara. Tantos quadros que talvez deixassem qualquer um tonto. Mas não era esse o motivo pelo qual se encontrava agora trôpega: era pela descoberta.

Descoberta não, se recompôs, constatação. Constatação porque estavam ali o tempo todo, e ao mesmo tempo não era exatamente agora que notara... Há muito já havia percebido, aliás, desde o começo, perceberá mas não entendera, ou não quisera. Tão talentoso. Mas agora sim. Sem esforço nenhum e com total surpresa, entendera. Todos aqueles retratos ali, pela parede, seus retratos que adorava tanto, cada um uma lembrança... não eram realmente ela. Não era.

E foi nesse instante que sentiu tudo girar, e ela realmente girava, os olhos trôpegos cavalgando de quadro a quadro; não pelos próximos de um a um, mas aos pulos, de cima à baixo, diagonal e por todos os lados. Queria abarcar logo todos, e o fazia com fúria de ansiedade. Em algum deles deveria estar a chave para decifrar aquele mistério.

E de repente naquela busca se deparava novamente com sua imagem, parecia realmente ela. E não era. Tão parecida mas faltava alguma coisa, detalhe ínfimo que fosse. O detalhe existia, aliás, pensou, e era outra.

Não burra, não era tonta, como poderia não ter percebido por tantos e tantos retratos recebidos? Quadro à quadro os revisava, se reconhecia e estranhava. Aquela feição não era a sua, talvez o rosto sim, as bochechas rosadas e meio cheias, os cabelos bem lisos escorrendo aos lados do rosto, os olhos pequenos e ligeiramente fechados. Mas aquele sorriso lívido, aquela melancolia leve, com certeza não eram dela. Importara de outro alguém.
Mas ora, que besteira, não seria possível retratação tão fiel que não deixasse imperfeição. Mas não era questão de incoerência, sentiu, nem defeito. O que estava ali estava com perfeição e se não era ela, era outra. Ou outro.
Tudo lá, tão perfeito, começando pelo nariz, tão reto, pequeno, comum... tão comum que poderia ser o de qualquer pessoa. Talvez fosse isso, o nariz. Por aquele nariz se escapava o retrato de si. Qualquer um poderia caber naquele retrato, entrando pelo nariz.
Paranóia? Se fosse não se questionaria, como era possível, uma simples... Sou eu, é claro, que tolice. Bem se vê que houve esforço. Ora, que tola. Deselegância... Inveja, talvez. E agora via que tola era ela. Só quando sozinha e distraída o suficiente olhara de relance a parede e começou a pensar... E se... Mas como? E de repente já era tão certo e agora tão óbvio, mas não fazia o menor sentido. Talvez falta de habilidade... Não, não poderia, pois ao deixar de se reconhecer agora reconhecia outra coisa, que não sabia o quê, mas não ela.

E ela que sempre sentira aqueles quadros tão deles, presente por presente, o jeito dele de ver o mundo e não só isso, a maneira como gostaria de sê-lo, e lhe pintara assim. O que havia de errado não sabia ainda diagnosticar, mas sabia. Talvez um glamour ou mesmo um peso que não era dela, mas bem que gostaria. E os quadros, sempre notara, cada um mais diferente que o outro, mais lívida, impressionista, romântica, fugaz, linda. Às vezes desenhos rápidos feitos à lápis e papel numa tarde na casa de amigos ou piquenique; estes menos parecidos, mas enquadrados e guardados com tanto carinho.
Quem sabe mais relaxado ou em intimidade comigo, entre momentos de gozo, ele deixasse escapar esse outro, esse outro que parece desejar tanto quanto a mim. Agora tinha certeza, era outro, e não outra; era homem e lhe olhava. E de repente se assustou, e tapou a boca e caiu. Caiu desengonçada, mas leve, dobrada sobre os próprios joelhos. passou a mão sobre a testa, era frio e pensou, mas já sem nenhuma ansiedade.

E ao deixar de mirar a vertigem da parede, as coisas começaram a fazer mais sentido. Pensou em como vez por outra achara que superestimara a sua habilidade, em um prenúncio de estranhamento dentro da imensa alegria de recebê-los. Mas preferira acreditar que eram a maneira como lhe via, e por muito não pensava nisso. Talvez falta de habilidade, mas isso não suportava. Se tentava há pouco acreditar que sim, agora sabia que não, habilidade não faltava, e estava claro. Provavelmente não pra ele, mas pra ela, tinha certeza e via agora: era outro.

Jordana,

















num íntimo
num átimo
na inflexão exata
no momento da bala
que disparada
atinge o seu máximo

o momento em que, como bala,
não é eminência nem alojada
na distância exata
entre intencional e deflagrada
o momento em que oscila
entre fuga e amendrotada
o momento em que é só ameaça



*na foto, retrato de jordana vieira, aluna de balé da Vila Olímpica da Maré selecionada,entre mais de mais de 20 mil concorrentes a uma vaga no mundialmente famoso balé Bolschoi.
créditos: marcelo carnaval para a sessão retratos capitais.

terça-feira, janeiro 02, 2007

Bem doida!

Ela faz versos como quem respira,
Fala como quem recita;
Escreve num pulso que é tão in
Que in pulsa

É música como que num riso
Num ritmo trôpego, bêbado
De si, cada vez mais
E mais e mais a cada instante
De vida, embriagada

Ela fala como quem recita,
E é, como quem respira
Mais vida, mais louca
Bem doida!

Feito música... Ressoa.


o céu é azul
tenho os pés no chão
e amo você