terça-feira, fevereiro 20, 2007

acontecimentos

eu espero
um acontecimento
mas quando acontece
é festa no outro apartamento

sentado aqui
já não sei quando tempo
sua espera
e uma divisão do sofá

toco com o olho
o telefone
em suspenso
alguns milímetros
mais próximos, nós dois

e lá no fundo
como barulho do mar
o som da solidão
encostada na varanda

(assoviando
pelas persianas
das venezianas)

e tudo que eu posso te dar é solidão com vista pro mar

enquanto espero
de lá pra cá
pela cidade
seguindo a rota de cada dia
olhando pra baixo
pelo afeto que tenho pelos buracos da calçada
e do asfalto
e essas poças de lama
e panfletos amassados jogados ao chão

todos ali
pro que der e vier
sempre

pendulando
como o ventilador branco de teto
que tem de fundo a parede branca
e é meu relógio
e roda sem parar
projetando sombras na parede vazia
e entre quartos
e entre salas
mesmo ao apertar do interruptor
ainda girando e girando devagar
lances de luz de claro e penumbra no claro do branco
deslizando

pelo apartamento