eu espero
um acontecimento
mas quando acontece
é festa no outro apartamento
sentado aqui
já não sei quando tempo
sua espera
e uma divisão do sofá
toco com o olho
o telefone
em suspenso
alguns milímetros
mais próximos, nós dois
e lá no fundo
como barulho do mar
o som da solidão
encostada na varanda
(assoviando
pelas persianas
das venezianas)
e tudo que eu posso te dar é solidão com vista pro mar
enquanto espero
de lá pra cá
pela cidade
seguindo a rota de cada dia
olhando pra baixo
pelo afeto que tenho pelos buracos da calçada
e do asfalto
e essas poças de lama
e panfletos amassados jogados ao chão
todos ali
pro que der e vier
sempre
pendulando
como o ventilador branco de teto
que tem de fundo a parede branca
e é meu relógio
e roda sem parar
projetando sombras na parede vazia
e entre quartos
e entre salas
mesmo ao apertar do interruptor
ainda girando e girando devagar
lances de luz de claro e penumbra no claro do branco
deslizando
pelo apartamento