sexta-feira, março 30, 2007

paisagens (de aqui)

um pardal voa
e pousa
sobre os galhos secos
de uma planta seca

um indivíduo negro
no escuro
vira a esquina de uma vez
e o caminhante pula
pro outro lado da calçada
pensando ser um bote

o sibilo de cobra
do lagarto
na parede de pedra
palpita
no peito do passante

Branco tédio

Luz perpendicular amarela por venezianas na parede, às 16:30h

azulejos opacos revestem o hall
hall vazio, às 16:30h
tudo claro, até as formas
simples arestas aparadas
esterelizado histérico
lençol branco
tempo no tic tac do pingo do soro
nem analgésico, nem antibiótico,
ponto ou cicatriz
só soro

Minhas paredes são todas pintadas de branco gelo.

quinta-feira, março 22, 2007

caminho das pedras tortas

os pés sob o asfalto
a pressa o passo

atravesso a falta de espaço sob a sola do sapato

desequilíbrio no ralo
caminho das pedras tortas

a água escorre
rios entre as pedras esparsas
os pés entre suas margens
o equilíbrio bêbado e rápido

fuga do tempo
e dos carros

o teto da cidade

meio dia de chuva
nada mais urbano que a falta de asfalto
o subúrbio
suburbano
e calmo

sob céus de fios de cobre
o pingo da gota de chuva
escorrega
________na laje em decline
lambe a ponta da telha
e cai no áspero da calçada
encharca e

_________escorre
se levanta
e rola
____pelo vãos da calçada
se apossa dos seus buracos
e reflete o céu
com chãos de zinco

deixe estar

lembro do dia
em que meu olhar
cruzou com o teu
pelas costas
de calçadas opostas
e eu decidi, ali
te amar pra sempre
e só

terça-feira, março 20, 2007

céu de acrílico azul piscina


flutuando no cloro
o besouro morto ainda voa
luz ondulando ao meio dia

a água brilha mais que o asfalto

(Uma vez eu vi um mar tão bonito que parecia até uma piscina!)

um corpo perfura
a superfície azul e nuvem
que tremula

pele engelhada sobre azulejo trincado
o dedão do pé achatado risca o chão

um susto:

a pele não se corta