eu espero
um acontecimento
mas quando acontece
é festa no outro apartamento
sentado aqui
já não sei quando tempo
sua espera
e uma divisão do sofá
toco com o olho
o telefone
em suspenso
alguns milímetros
mais próximos, nós dois
e lá no fundo
como barulho do mar
o som da solidão
encostada na varanda
(assoviando
pelas persianas
das venezianas)
e tudo que eu posso te dar é solidão com vista pro mar
enquanto espero
de lá pra cá
pela cidade
seguindo a rota de cada dia
olhando pra baixo
pelo afeto que tenho pelos buracos da calçada
e do asfalto
e essas poças de lama
e panfletos amassados jogados ao chão
todos ali
pro que der e vier
sempre
pendulando
como o ventilador branco de teto
que tem de fundo a parede branca
e é meu relógio
e roda sem parar
projetando sombras na parede vazia
e entre quartos
e entre salas
mesmo ao apertar do interruptor
ainda girando e girando devagar
lances de luz de claro e penumbra no claro do branco
deslizando
pelo apartamento
5 comentários:
melancolicamente belo
a espera, as sombras, a solidão, os panfletos
tudo tão estático
tão de espera...
Que bonito, lôro. Gostei muito das imagens, você tem um jeito de descrever objetos e emoções muito único e sutil... Poema bem melancolicamente urbano. Talvez tenha sido por causa do seu comentário sobre isso ser um post carnavalesvo, mas me passou a impressão de dolidão-ressaca de feriadão.
muito bom trabalho com os objetos, bruno. Cada objeto muito bem posicionado na escora de um gesto ou um sentimento ou de uma idéia.
ah, vale citar que não é plágio, mas tem duas canções homenageadas aí. trata-se de ''acontecimentos'' e ''eu não sei dançar'', ambas interpretadas pela marina lima :)
"...e entre salas
mesmo ao apertar do interruptor
ainda girando e girando devagar..."
adorei a forma com que você usou os objetos para dar idéia de inércia, de espera. muito muito bom.
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