quarta-feira, janeiro 20, 2010

ao feto

às vezes, eu queria me pegar no colo
ser meu próprio pai
me aninhar nos meus braços
cuidar de mim

mas me deixo ao relento
a testa encostada no vidro de uma janela
sombras de gotas de chuva
me escorrendo o rosto

às vezes,
me embalando
entro em transe
percorro em mim
labirintos que não têm nome
nem fio de ariadine que me retorne à superfície

cuido-me como a um outro
e tanto e tão intensamente
que não resta qualquer alteridade
esse amor umbilical
se enrolando no pescoço
de um feto impossível

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