sábado, agosto 02, 2008

Aos poucos

Abrir os olhos. Virar o rosto no travesseiro. Ficar de lado. Levantar rápido, desligar o despertador, espreguiçar. Dormir mais um pouco.

Deslizar a cabeça sobre os lençóis. Acordar de novo. Sentar na beirada da cama. Ir ao banheiro. Enxaguar a boca, escovar os dentes, fazer xixi. Sentado.

Voltar à pia, escovar os dentes, sem pasta: tirar o acre da boca. Ir tomar café.

Desistir. Tomar somente água. Quem sabe um leite com açucar.

Sentar de frente à TV. Reunir forças. Pensar no que se tem a fazer. Deitar no sofá. Ver programas de TV. De culinária. Sentir um pouco de fome, esperar o almoço. Comer pouco.

Sentar em frente ao pc. Ver algumas notícias. Evitar os e-mails mais sérios. Começar a se arrumar na hora em que deveria estar saindo de casa. Sair de casa na hora em que deveria estar chegando lá.

Andar pululando de calçada em calçada, buscando as sombras. Se encostar atrás da parada, pensar um pouco. Se erguer impaciente, o ônibus chegando. Não ser a linha correta. Esperar o outro. O outro. E o outro. Enfim.

O sol no rosto. Sentar-se no lado da sombra, um desejo. Não haver vaga. Ir em pé. Chegar meio vivo. Seguir a pé. Atravessar a rua. Fazer as coisas. Sutilmente. Todas as coisas. De cada vez.

Se aos 15 eu achava que iria ir morrendo, aos poucos, hoje eu vejo que não, que eu vou vivendo, que eu venho vivendo. Aos poucos.

4 comentários:

Débora Medeiros disse...

É, e vamos levando... Acho que a gente sempre espera que a vida seja extremamente diferente a cada etapa, mas a transição é sempre lenta e gradual.

Rainha das Águas disse...

(=*)²

Thalita Castello Branco Fontenele disse...

Às vezes são mesmo as pequenas coisas do dia-a-dia que nos salvam, ainda que pareçam mortas.

Anônimo disse...

gostei do blog :)