domingo, dezembro 10, 2006

eita eita eita

''Vá ao pinheiral se você quer aprender sobre pinheiros, ou ao bambuzal, se você quer aprender sobre bambus. Fazendo isso, você tem que deixar de lado essa preocupação excessiva consigo mesmo. Senão você só se impõe no objeto e não aprende. Sua poesia emana do seu íntimo quando você e o objeto se tornam um. Quando você, enfim, vai fundo o suficiente para ver uma espécie de brilho escondido ali. Por mais bem fraseada que sua poesia possa ser, se seu sentimento não é natural, se você e o objeto estão separados, então sua poesia não é verdadeira poesia, mas só uma mera falsificação subjetiva.'' Matsuo Bashô



Interessante como mesmo falando sobre a necessidade de se apropriar dos objetos, sair do umbigo, Bashô reforça a importância do subjetivo, do eu. Não há expressão que não seja extremamente vinculada, irrevogavelmente, aliás, ao seu próprio modo de ser, seus interesses, sua subjetividade. Mas para não se encerrar nisso, já que a arte é algo socialmente inscrito, é preciso exercitar o apropriamente de outro eu, ou de partes do próprio eu que às vezes é deixado de lado. Estou escrevendo um conto há um bom tempo, e estou tentando me apropriar disso... Talvez quando eu publicar pensem que o que escrevo não tenha nada à ver comigo, que está algo por demais frio, mas isso seria apenas uma visão imediatista das coisas. Nem só de lágrimas vivem as emoções.
*editado: corrigi o ''senão'', que tava separado na citação.
Aproveito ainda pra falar de onde tirei a citação, trata-se da abertura de uma parte do livro Polivox, ''Satori Uso'', do poeta Rodrigo Garcia Lopes(eita nome!). Gostando muito das coisas dele, essa seção que é aberta pela citação é só de hai cais escritos verticalmente, como se fosse grafia japonesa, só que em português. O interessante é que, além de ser referência à origem do hai cai, a leitura vertical é mais lenta, o que é propicio ao clima do hai cai. Descobri inclusive que usei um dos peomas(sem título) como mote pra ''gato preto sobre gato preto'', poema que eu publiquei um tempo aqui atrás, sabendo que já tinha ouvido essa expressão, mas sem saber onde.
Reproduzo-lhe aqui:
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Um comentário:

Lediana Aquino disse...

Seu post me remeteu a um trecho de uma música nova do Humberto Gessinger: "juntos para sempre, objeto e observador"

eita eita eita, digo eu. "Nem só de lágrimas vivem as emoções". Essa é uma frase que eu gostaria de ter escrito, mas vc a encontrou primeiro, hehe!

Sim, eu estou bem nessa fase: tentando me desconcentrar do meu próprio umbigo e me apropriar do que está aqui fora.

Essa fase de reaprender a escrever está sendo lenta, gradual e até um tanto quanto dolorosa, pois muito do que escrevo está indo mesmo é para o lixo ou para o meu acervo de poemas e contos inacabados. Mas acho que está valendo a pena. Sinto-me uma lagarta bem no rito de passagem para borboleta.

Boa sorte no seu novo conto. Espero vê-lo publicado aqui em breve.

Beijos!